sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Gotas de Paz - 420

“Senhor, quantas vezes devo perdoar as ofensas do meu irmão?” MT 18,21.

O Evangelho desse domingo nos oferece uma nova oportunidade de meditar sobre a importância do perdão nas nossas vidas. A pergunta de Pedro sobre a quantidade numérica de vezes que devemos perdoar os nossos irmãos revela uma preocupação legalista sobre o perdão, que talvez esteja presente também em nós.

Quantas vezes devem perdoar a mesma pessoa para estar bem com Deus, para cumprir sua lei: uma vez, duas vezes, três vezes sete vezes…? Pedro havia compreendido que Jesus ensinava as pessoas a perdoar as pessoas que nos ofendem… mas Ele queria saber o número preciso: até quantas vezes?

Naturalmente nós temos um instinto que nos leva a querer pagar com a mesma moeda o mal que nos fazem. Quando alguém nos faz sofrer, nos parece que somente teremos paz quando veremos aquela pessoa sofrendo o mesmo ou pior do que aquilo que nos fez. É nosso instinto de vingança. É a lei do: olho por olho, dente por dente.

Fazendo isso, cremos que os demais sabendo que receberão o mesmo mal que nos vão fazer, poderão pensar antes e desistir de fazer-nos o mal. Não porque tenham amadurecido e entendido que devem evitar o mal, mas somente porque terão medo de sofrer o mesmo.

Esse modo de entender procura impedir o mal pela repressão, pelo medo de sofrer o mesmo, isso é, para evitar o castigo. Não forma a pessoa para o bem, não a ensina o valor da justiça, da caridade, do serviço, do respeito. Não forma para uma vida comunitária aonde todos são chamados a fazer o bem e promover aos demais, e sim impõe o medo da punição. È como quando para convencer uma pessoa que não deve matar as outras, ao invés de ensiná-la o valor da vida, sua sacralidade, sua importância, somente se ameaça com o castigo da cadeia. Isto significa que, quando essa pessoa pensar que não lhe vão descobrir para punir, então fará o mal. Isto tudo se pode comparar a um individuo que tem uma debilidade curável na coluna e não consegue caminhar, se pode procurar um tratamento dos seus ossos ou então construir uma armadura. Com os dois meios ela poderá caminhar, o problema é que no segundo caso o dia que se rompe a armadura ela cairá.

A sociedade em que Jesus nasceu era fundada sobre a punição, a vingança e o castigo. Falar de perdão, de dar a outra face, de não buscar a punição de quem nos fez o mal, era algo muito estranho e difícil de entender.

Porém, com Jesus havia chegado a plenitude dos tempos. Ele não queria fazer perpetuar a armadura da lei, queria formar o coração das pessoas.

Na sua nova sociedade o perdão é fundamental. As pessoas devem renunciar ao mal, não porque temem o castigo, mas porque descobrem o prazer do bem, a felicidade do amor. Com tudo, isso somente é possível quando estamos dispostos a renunciar o direito natural de vingança, para assumir o valor sobrenatural do perdão.

Para Pedro também era muito difícil entender esse novo modo de ver as coisa, esse novo modo de organizar a sociedade. Essa novidade do perdão lhe parecia muito estranha. Ele queria entender melhor: até quantas vezes tenho que perdoar antes de entrar no velho esquema do castigo? Depois de quantas vezes que perdoei, devo iniciar a me vingar? Seguramente tinha a dúvida que muitos de nós ainda temos:- E si continuo perdoando ele não se aproveitará para fazer-me de novo o mesmo ou alinda algo pior?

Com certeza, na comunidade de Jesus o perdão é ilimitado. Não estamos jamais autorizados a recorrer a vingança. Para Jesus, quando uma pessoa é madura o único que pode mudar e formar é o amor, não o castigo. No seu mundo novo, não tem espaço para os que deixam de fazer o mal somente por medo, e sim para os que fazem o bem por uma necessidade interna de ser coerentes, pelo gosto de ser bons, por uma exigência do coração.

Além do mais, Jesus sabe que só é verdadeiramente livre quem não tem o coração atado às pessoas que o feriram. Cada vez que alguém nos faz um dano, o nosso coração continua sendo torturado enquanto não lhe damos o perdão. Por isso, quem decide de nunca perdoar vai perdendo devagarzinho o brilho da sua vida, vai envenenando todas as relações, perde a paz e a serenidade, se transforma num escravo da tristeza… Quem crê que não deve perdoar um irmão, ainda que seja muito grave o que ele tenha feito ou porque já não era a primeira vez, está condenando a si mesmo, a perder o sentido da vida, a viver como escravo das suas feridas.

È por isso que o Senhor insiste com Pedro dizendo que se devem perdoar ao menos setenta vezes sete, isto é, sempre. E nos consola o fato que se Jesus disse isso a Pedro, é porque certamente Ele o faz conosco. O Senhor está disposto a perdoar-nos sempre: não para que possamos pecar sem preocupações, e sim para que transformemos nossas vidas contagiadas pelo seu amor.

O Senhor te abençoe e te guarde,

O Senhor faça brilhar sobre ti o seu rosto e tenha misericórdia de ti.

O Senhor mostre o seu olhar carinhoso e te dê a PAZ.

Frei Mariosvaldo Florentino, capuchinho.

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