“Por ultimo enviou a seu filho, pensando: Respeitarão o meu filho. Mas os trabalhadores, ao ver o filho, disseram entre si: Esse é o herdeiro, se o matamos nós ficaremos com a sua herança.” Mt 21,37-38.
Este domingo a Igreja nos oferece o Evangelho dos vinhadores assassinos no qual Jesus prevendo o que ia acontecer consigo mesmo faz uma comparação que põe em mal situação os fariseus e doutores da Lei.
De fato vemos que existem dois modos diferentes de entender a mesma coisa: o envio do filho do dono. Seu pai acredita que sendo seu próprio filho os trabalhadores da sua vinha o respeitarão, eles porém crêem que é melhor matar-lo justamente porque é o filho do dono. Essa dupla interpretação nos dá a ocasião de refletir sobre uma das doutrinas mais afirmadas nos últimos tempos: todos tem o direito a ter uma opinião própria.
Sem dúvidas esta é uma afirmação correta e que precisa ser defendida, mas devemos reconhecer que tem também os seus limites.
É verdade que cada um de nós tem um modo particular de ver o mundo e uma sensibilidade diferente, que permite que a convivência humana seja uma experiência muito rica com infinitas possibilidades. Certamente cada um tem uma colaboração especial para a vida, para a cultura e para a felicidade.
Foi Deus que nos fez especiais e irrepetíveis e Ele mais do que ninguém deseja valorizar e defender a maravilha única que somos. Deus, em Jesus Cristo, manifesta um amor de predileção por cada um em particular, e colocou em cada um de nós uma combinação exclusiva de dons para que possamos trabalhar para o bem de todos.
Se somos assim tão especiais, é natural que cada um tenha uma opinião diferente, idéias diversas, propostas dispares. Mesmo assim não podemos nos esquecer que não somos ilhas. O ser humano é profundamente comunitário. Isto é, devemos necessariamente ter pontos comuns. A absolutização do subjetivo não promove o homem, não o valoriza, mas ao contrario o desfigura e o destrói. Necessitamos ter uma base comum sobre a qual cada um oferece sua própria contribuição.
É como ser um escritor: cada um pode escrever coisas muito diferentes: um romance, uma poesia, uma nova teoria, uma homilia, etc, porém tem que ser escrita numa língua comum, e esta tem que ser aprendida, com sua gramática, com as suas regras, com as suas possibilidades.
Todos podem e devem ter suas próprias opiniões, mas antes devem formar a consciência, conhecer os valores, ser capazes de julgar segundo a justiça. Sem isto, ou tendo uma consciência mal formada, podemos ter opiniões que serão absurdas e prejudiciais. Ademais, temos muitas vezes opiniões equivocadas, porque não estávamos vendo muito bem a realidade ou estávamos julgando com preconceitos.
Aqui, nos encontramos com um grande perigo de nossos tempos. Muitos fazem um discurso ingênuo de respeito e de tolerância a todos os tipos de expressões humanas. Somos vítimas da grande ideologia do relativismo. Querem convencer-nos que a verdade não existe, e então não termos parâmetros, e toda opinião pessoal deve ser aceita, sem discutir, sem amadurecer, sem ter que mudar. É a glorificação do egoísmo.
Este caminho é autodestrutivo. Se alguém me diz: eu quero ser um nazista! Naturalmente eu não posso aceita-lo. Devo ajudá-lo a abrir os olhos para que possa descobrir que essa sua opinião é absurda, é injusta e desumana. Ou alguém que me diga: eu quero ser satânico! – tão pouco posso aceita-lo, pois isto é intrinsecamente mau. Ninguém pode aceitar que é uma opinião válida uma idéia que conduz ao mal para os demais.
È por isso que esses trabalhadores do evangelho estão equivocados. Eles não tem o direito de pensar em matar o filho do patrão por causa de seus interesses econômicos. Ninguém tem o direito de tocar na vida de outra pessoa. Esse é um valor que não depende da opinião , que não pode ser decidido pelo voto da maioria.
Existem coisas que não podem ser toleradas como a injustiça, o racismo, o desprezo pelos mais fracos, o assassinato, a violência, a corrupção, o narcotráfico, o terrorismo, a exploração humana, a destruição da natureza…
Senhor Jesus, ajuda-nos a formar bem nossas consciências, ajuda-nos a ter uma opinião própria que colabore para o bem do mundo, ajuda-nos a combater os promotores da ideologias de morte. Ensina-nos a não escolher nada pensando somente a nós mesmos, sem medir as conseqüências também para os demais. Não permita que o egoísmo, a avareza ou o hedonismo endureçam o nossos corações até o ponto de não preocupar-nos do mal que podemos fazer.
O Senhor te abençoe e te guarde,
O Senhor faça brilhar sobre ti o seu rosto e tenha misericórdia de ti.
O Senhor mostre o seu olhar carinhoso e te dê a PAZ.
Frei Mariosvaldo Florentino, capuchinho.
Que São Francisco de Assis nos ajude a ser instrumento de paz !
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