domingo, 16 de outubro de 2011

Gotas de Paz - 425

“Dêem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Mt 22,21.

Quantas vezes já escutamos ou dissemos esta frase em muitas situações diferentes de nossa vida. Ela é uma dessas formulações magistrais de Jesus. Até mesmo os que queriam colocá-lo à prova ficaram maravilhados com sua resposta. Mais além das razões sócio-políticas que levaram Jesus a proclamar essa máxima, deixando todos contentes, queremos meditar sobre seu sentido em nossa vida atual. Ao tempo de Jesus ficaram contentes tanto os que acreditavam que se deveria pagar fielmente os impostos ao Império Romano pois efetivamente a moeda corrente tinha a marca de César, quanto aqueles que acreditavam que o povo de Israel , libertado por Deus do Egito, devia um tributo pela terra e a produção somente a Deus, sem dever pagar nada ao império estrangeiro.

Certamente, é tarefa de cada um poder verificar que coisas são de César e que coisas são de Deus em nossas vidas. Jesus hoje nos ensina que temos que saber discernir, temos que conhecer as coisas para poder saber quais são de Deus e quais são do mundo.

De fato esse é um grande problema na vida de muita gente atualmente: não sabem o que devem dar a Deus e nem o que devem dar ao mundo.

Todos vivemos numa realidade social: uma cidade, um país, um governo e não podemos estar alheios a todas essas coisas... devemos interessar-nos, devemos colaborar ao justo progresso da humanidade. Todos nós temos coisas que pertencem a “César” e devemos prestar contas a ele. Negar isso seria uma grande alienação. A sociedade civil, a política, o mundo da cultura, a ecologia, as finanças ... necessitam também de nossa colaboração e participação. Enquanto vivemos nesse mundo, não podemos esquivar-nos de nossas obrigações para com ele, e muito menos com a justificativa que somos pessoas espirituais e não nos interessa o material. Enquanto não vivermos sem comer, sem estar na sociedade, sem utilizar os bens públicos, não podemos simplesmente “lavar as mãos” e dizer: isto não me interessa! O que temos que aprender é o modo cristão de colaborar para o bem do mundo, mas não podemos deixar de dar a parte que corresponde a “César”, Deus não quer receber o que é de “César”. Por isso, todos os cristãos tem a obrigação moral de colaborar para o bem do mundo: interessando-se pela vida política, ajudando no projeto de conservação da natureza, participando nas associações, iluminando os legisladores para que aprovem leis justas ...

As vezes me parece que tem muitos cristãos que se esquecem disto, o que é muito triste, pois nossa vocação fica mutilada.

Por outro lado, também é verdade que infelizmente muitas pessoas se esquecem completamente que nem tudo pode ser dado a “César”. Existem muitos que vivem somente nas coisas do mundo e consumam toda a vida com a política, com as associações, com a cultura, com o trabalho, com as contas... e alguns até mesmo somente com as coisas fúteis e completamente transitórias. Ninguém deveria esquecer-se que nossa vida humana é muito mais que estas coisas mundanas. O homem perde o sentido da vida quando começa a dar a “César” tudo o que tem, isto é, até mesmo as coisas que são de Deus: nosso louvor, nossa capacidade de amar, nossa vocação, nossa escuta...

Existem pessoas que glorificam a homens, atores, cantores, políticos... correm atrás, os imitam, lhes obedecem, lhes defendem como se fossem deuses, e dão a eles o que somente a Deus pertence. Isto é um grande equívoco: pois eles se transformam em ídolos e os ídolos sempre contaminam e destroem nossas vidas.

Existem pessoas que gastam todo o seu tempo, sua inteligência, suas capacidades somente com coisas do mundo e ao final ainda que muito cansadas estão vazias, pois se dissipam em coisas insignificantes.

Hoje cada um de nós deve perguntar-se: Eu estou dando a César o que é César e a Deus o que é Deus?

Qual poderia ser um critério para não deixar Deus sem a sua parte? Bom, os consagrados decidiram dar a maior parte de suas vidas a Deus, ainda que não devem se esquecer de um mínimo indispensável que também devem dar a “César”. Para os demais cristãos, os leigos, creio que um bom critério é aquele que encontramos na Bíblia: o dízimo, isto é, a décima parte. Todos os que estão no mundo, devem consagrar a Deus ao menos dez por cento de todas as coisas da vida. Ou seja: não somente dez por cento do salário deveria ser destinado para a caridade, para as obras da Igreja, para a evangelização, mas também pelo menos 10% do tempo deve ser destinado a oração, para ir a Igreja, para participar de um grupo eclesial, para estudar a bíblia, para visitar os enfermos, para fazer voluntariado... pelo menos 10% da inteligência deve ser destinada para fazer crescer as obras de Deus ... pelo menos 10% das energias físicas devem ser consumadas no serviço aos demais ... pelo menos 10% de nossa capacidade de amar, devemos dar para aqueles que não são nossos parentes e amigos, isto é, para os pobres, os enfermos, os marginalizados ...

Se fazemos isto, tenho certeza que nossas vidas se transformarão radicalmente. Deus não exige que todos dêem a Ele toda a vida, mas é muito ciumento do seu dizimo: não dar a Deus ao menos 10% de tudo o que temos e somos, é roubar Deus, e por incrível que pareça os únicos prejudicados com esse roubo somos nós mesmos. São esses 10% que darão sentido a nossa vida, que nos permitirão de saber que não somos escravos de “César”.

Ah, meu Deus, ensina-me em primeiro lugar a saber o que é de César e o que é de Deus e dá-me a generosidade de dar a César o que é lhe pertence e a Deus a sua parte.

O Senhor te abençoe e te guarde,

O Senhor faça brilhar sobre ti o seu rosto e tenha misericórdia de ti.

O Senhor mostre o seu olhar carinhoso e te dê a PAZ.

Frei Mariosvaldo Florentino, capuchinho.

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